Espécies invasoras: piores casos brasileiros

Elas são o terror dos ambientalistas. Conheça cinco vezes em que espécies invasoras causaram grande estrago na fauna do Brasil

Por João Velozo, editado por Bruno Ignacio de Lima  02/02/2024 07h20, atualizada em 07/02/2024 15h31FONTE

Javali / Imagem: Reprodução

Temidas por biólogos e ambientalistas, as espécies invasoras, muitas vezes resultados da expansão humana, representam um risco real para a biodiversidade e podem levar à extinção de diversas espécies. Uma espécie invasora é um organismo, seja animal, vegetal, ou microbiano, que é introduzido em um ecossistema fora de sua área de distribuição natural e que, uma vez estabelecido, ameaça a biodiversidade local, os ecossistemas e, por vezes, a saúde humana. Vamos conhecer cinco espécies invasoras que tem tirado o sono de ambientalistas no Brasil.

1. Capim-Colonião (Panicum maximum):

Capim-Colonião (Panicum maximum) Foto: Wikimedia commons

O capim-colonião, originário da África, foi introduzido no Brasil com a intenção inicial de servir como forragem para o gado. Contudo, essa espécie invasora rapidamente demonstrou uma capacidade excepcional de adaptação ao clima brasileiro, tornando-se uma presença dominante em pastagens e áreas naturais.

Seu crescimento descontrolado destrói a biodiversidade local, suprimindo o desenvolvimento de plantas nativas e impactando negativamente a cadeia alimentar local e todos os ecossistemas da região. Além disso, o capim-colonião competiu com outras espécies vegetais, desencadeando um desequilíbrio ecológico que afeta tanto a fauna quanto a flora brasileiras.

2. Percevejo-Marrom (Halyomorpha halys):

Percevejo-Marrom (Halyomorpha halys) Foto: Wikimedia Commons

O percevejo-marrom (Halyomorpha halys), originário da Ásia, inadvertidamente encontrou no Brasil um ambiente propício para sua proliferação, demonstrando uma incrível capacidade de adaptação às condições locais. Este inseto invasor, acidentalmente introduzido, tornou-se uma ameaça para a agricultura brasileira devido à sua voracidade alimentar e à ampla variedade de culturas que ataca.

Com sua preferência por uma diversidade de plantas, incluindo soja, frutas e hortaliças, o percevejo-marrom compromete a produção agrícola, causando danos diretos às colheitas. Seu aparelho digestivo possui estruturas especializadas que injetam toxinas nas plantas. Impactando não apenas a quantidade, mas também a qualidade dos produtos cultivados. A capacidade do percevejo-marrom de se multiplicar rapidamente agrava ainda mais os danos.

3. Caramujo-Africano (Achatina fulica):

Imagem: Insektenliebe/Reprodução

O caramujo-africano, originalmente introduzido no Brasil como uma alternativa alimentar, transformou-se em um problema ambiental e de saúde pública. Importado por restaurantes de diversas regiões do brasil, como substituto ao escargot, o caramujo  nunca foi bem recebido pelo público brasileiro. Como resultado vários donos de restaurantes lançaram centenas de milhares de caramujos nos rios e lagos do brasil.

Originário da África, esse molusco invasor adaptou-se rapidamente às condições climáticas brasileiras, tornando-se uma presença invasiva em diversas regiões. Com uma grande capacidade reprodutiva, o caramujo-africano compete com espécies nativas por recursos, danifica plantações e se torna vetor de doenças, representando uma ameaça para a biodiversidade local e a saúde humana.

4. Carpas (Cyprinus carpio):

Carpas (Cyprinus carpio) Foto: Wikimedia Commons

A introdução das carpas no Brasil para fins pesqueiros trouxe consigo consequências ambientais significativas. Originárias da Europa e Ásia, essas espécies invasoras estabeleceram-se em ecossistemas aquáticos brasileiros, competindo com peixes nativos por recursos e alterando a qualidade da água. Com um crescimento populacional rápido e impacto na flora e fauna aquáticas locais, as carpas tornaram-se uma ameaça à biodiversidade dos corpos d’água brasileiros. A gestão eficaz dessas populações invasoras torna-se essencial para preservar a integridade dos ecossistemas aquáticos e manter a diversidade biológica.

5. Javalis (Sus scrofa):

Imagem: WildMedia – Shutterstock

A introdução dos javalis na fauna brasileira, inicialmente motivada pela caça esportiva, revelou-se uma decisão desastrosa para os ecossistemas locais. Originários da Europa e Ásia, esses animais adaptaram-se rapidamente ao ambiente brasileiro, caracterizando-se por sua reprodução acelerada e falta de predadores naturais. Essa combinação de fatores resultou em danos significativos às plantações, competição agressiva com espécies nativas e perturbação dos ecossistemas locais.

Os javalis, ao revirarem o solo em busca de alimento, causam prejuízos às plantas e contribuem para o desequilíbrio ecológico em diversas regiões do Brasil. A gestão eficaz desses invasores torna-se crucial para preservar a biodiversidade, mitigar os impactos negativos na agricultura e restaurar a harmonia nos ecossistemas afetados.

Bônus:

Coral-Sol (Palythoa spp.):

Coral-Sol (Palythoa spp.) Foto: Wikimedia Commons

Avistado na costa brasileira nos últimos anos o coral-sol, originário do Pacífico, emergiu como uma presença invasiva nos recifes do Atlântico, tornando-se um desafio significativo para os ecossistemas marinhos. Reconhecido cientificamente como Palythoa spp., esse cnidário é caracterizado por sua capacidade de crescimento rápido e reprodução eficiente.

A introdução não controlada do coral-sol resultou em impactos negativos, sufocando os corais nativos e competindo ferozmente por recursos essenciais. Seu crescimento desenfreado exemplifica como uma espécie invasora pode comprometer a saúde dos recifes de coral, afetando a diversidade marinha e desequilibrando ecossistemas cruciais. A gestão e controle cuidadosos são essenciais para conter a expansão do coral-sol e preservar a integridade dos recifes de coral, fundamentais para a saúde dos oceanos.


Espécies invasoras ameaçam o ecossistema brasileiro

Fonte: Dinâmica Ambiental

As espécies invasoras são espécies exóticas, provenientes de outras regiões do planeta, que se proliferam de maneira descontrolada e ameaçam o equilíbrio dos ecossistemas.

Segundo um relatório da ONU, elas estão entre as cinco principais geradoras de mudanças dos ecossistemas nativos globalmente, causando alterações sem precedentes na natureza ao longo dos últimos 50 anos.

O estudo ainda aponta que, desde 1970, o número de espécies exóticas invasoras cresceu cerca de 70% em 21 países.

Além disso, um outro estudo publicado na revista Global Change Biology indica que o número de espécies invasoras pode crescer mais de 35% até 2050.

Espécies invasoras no Brasil

No Brasil o avistamento de 30 peixes-leão chamou a atenção da população e de especialistas. Comum da região biogeográfica do Indo-Pacífico, ele já foi encontrado nos litorais do Ceará, Pará e Fernando de Noronha (PE).

Em abril de 2022, um pescador teve que ser internado após pisar no animal e ter contato com seus espinhos venenosos, na Praia de Bitupitá, no litoral do extremo oeste do Ceará.

A questão é que além de ser venenoso, o peixe-leão tem características que o tornam um invasor imbatível: come de tudo, cresce e se reproduz rapidamente, produz uma grande quantidade de ovos, se dispersa com facilidade por grandes distâncias e é resistente à diferentes condições ambientais.

Para piorar, ele não é reconhecido por presas locais e não possui predadores que ajudem a combatê-lo no Brasil. Dessa forma, afeta o equilíbrio ambiental, ameaça a biodiversidade e coloca espécies nativas em risco de extinção.

Algo semelhante ocorreu no Caribe que teve seu território invadido pela espécie e que hoje está amplamente presente em seu território, como uma praga.

No entanto, o peixe-leão é apenas uma de muitas outras espécies invasoras do território nacional. Um relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis estima que haja 363 delas no país. Já a Base Nacional do Instituto Hórus indica 480.

Alguns outros exemplos de animais exóticos presentes no Brasil são o mexilhão-dourado, proveniente do sudeste asiático e o javali, originário da Eurásia e Norte da África.

Como ocorrem as invasões

As invasões biológicas costumam estar relacionadas à ação humana e podem ocorrer de forma intencional, quando há a intenção de inserir a espécie exótica em um novo ecossistema, ou não.
Sendo assim, elas podem ocorrer de diferentes formas como pelo tráfico ilegal de animais, pela fixação de espécies em casos de embarcações de comércio, quando animais se inserem acidentalmente em mercadorias, entre outras maneiras.

Vale mencionar que até que a espécie invasora se estabeleça, ela precisa vencer algumas barreiras, como sobreviver ao transporte, se adaptar ao clima do novo ecossistema, além de ser capaz de interagir com o novo meio e se reproduzir.

O problema ocorre quando elas conseguem se adaptar e se reproduzir, o que permite que elas se propaguem desproporcionalmente em seus novos habitats. Quando isso acontece elas podem levar à homogeneização biótica, ameaçando a biodiversidade, podendo levar à extinção espécies locais e promovendo a redução dos serviços ecossistêmicos.

Por fim, quando está difundida, a erradicação da espécie invasora é quase impossível, por isso, recomenda-se prevenir e reagir rapidamente, realizando o controle populacional, biológico e físico desses animais.

Brasil investe pouco em prevenção

Mesmo com o impacto das invasões custando caro e causando danos irreversíveis, o Brasil gasta muito pouco com prevenção.

Um estudo publicado na revista NeoBiota, conduzido por Rafael Dudeque Zenni, pós-doutor em ecologia e biologia evolutiva do Departamento de Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Lavras, e outros colegas, indica que as invasões custaram mais de US$ 105 bilhões aos cofres brasileiros entre 1984 e 2019.

Em relação à prevenção, o Brasil investiu apenas US$1,19 bilhão em ações de manejo, controle e erradicação ao longo desse mesmo período.

Considerando a intensificação do turismo, viagens e comércio, além do fato das mudanças climáticas terem forte sinergia com as invasões biológicas, fica evidente a necessidade de se investir mais em ações preventivas para garantir a manutenção dos ecossistemas do Brasil.

Fontes: Estadão Jornal da Usp


ATIVIDADE:

Respostas completas, no caderno, sem enunciados.

  1. Quais são as principais causas da introdução de espécies invasoras no Brasil?
  2. Como as espécies invasoras impactam os ecossistemas nativos brasileiros?
  3. Quais organismos são impactados pelas espécies invasoras mais problemáticas atualmente no Brasil? Cite exemplos e explique.
  4. Quais são os potenciais efeitos econômicos das espécies invasoras no país?
  5. Como as mudanças climáticas podem influenciar a proliferação de espécies invasoras no Brasil?
  6. Quais são as medidas atualmente adotadas pelo governo brasileiro para controlar espécies invasoras?
  7. Como a presença de espécies invasoras afeta a biodiversidade local?
  8. Quais são os impactos das espécies invasoras nos recursos hídricos do Brasil?
  9. Que estratégias podem ser implementadas para mitigar os danos causados por espécies invasoras no país?
  10. Quais são as implicações legais e regulatórias relacionadas à gestão de espécies invasoras no Brasil?