Adaptado de: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/nilometro-invencao-egipcia-usada-para-prever-enchentes-e-determinar-impostos.phtml
Muito usada nos tempos faraônicos, a tecnologia media o nível da água que transbordava do Nilo e tinha um papel crucial na agricultura
Ricos tanto em cultura, quanto em tradição, os povos do Egito Antigo conviviam com um constante contratempo da natureza. Todos os anos, de julho a outubro, as terras egípcias eram inundadas pelas chuvas de verão.
Com o grande volume de água, o Nilo transbordava durante todo o período das chuvas. E não pense que os egípcios ficavam frustrados com toda aquela água. Para eles, a inundação anual era o fenômeno mais importante do ano.
Era através da água trazida pelo Nilo que a fertilização das terras agrícolas aconteciam. Isso porque, durante as chuvas, toneladas de lodo — um dos fertilizantes usado na época — eram carregadas pela enchente.
Além disso, as inundações eram usadas para determinar festivais religiosos e, assim, regulavam o estilo de vida no Egito Antigo. Entretanto, existia um problema: era impossível identificar tudo que as águas indicavam apenas olhando para o horizonte.
A ideia do século
A fim de observar melhor o nível de água do Rio Nilo durante as estações de cheias, os egípcios inventaram os nilômetros. Feitos de pedra ou mármore, as gigantes colunas eram usadas para medir a altura que a inundação atingia.
Acima de um amplo sistema de canos, os egípcios construíam um poço profundo, com uma coluna no meio — os nilômetros. Como estavam em um nível muito abaixo do Nilo (e compartilhando o mesmo lençol freático), os poços eram preenchidos com água durante as enchentes.
Com a estrutura pronta, a coluna octagonal era seccionada em 19 segmentos, de 50 centímetros cada. Assim, os nilômetros poderiam ser usados como régua e mediam enchentes de até 9,5 metros.
Uma vez determinado o tamanho da coluna de mármore, os egípcios observaram o que cada altura indicava. Quando a água da chuva atingia as 19 sessões, ficava claro que o Egito estava passando por fortes inundações.
Caso o nível chegasse a 12 segmentos, o volume de água não seria suficiente para a agricultura e, assim, o povo enfrentaria fome naquele ano. A colheita apenas seria abundante caso a altura da água atingisse a 16ª sessão.
Dessa forma, graças à ferramenta, os egípcios foram capazes de prever a sorte da colheita anual. A partir desses dados, então, eles determinavam os impostos e os preços dos alimentos a serem cobrados da população.
Herança cultural
Famosos nos tempos faraônicos, os nilômetros continuaram sendo utilizados mesmo depois que o Egito foi conquistado por estrangeiros. A tecnologia era eficaz e era a melhor forma de observar as enchentes que continuavam acontecendo.
Por séculos, as populações egípcias aproveitaram a eficácia dos nilômetros e construções semelhantes foram encontradas até mesmo em civilizações greco-romanas. Com o tempo, entretanto, grande parte das estruturas foi perdida.
Segundo artigo publicado na National Geographic, em 2016, existem “menos de duas dúzias dos dispositivos” no mundo todo. Esse é o caso do nilômetro de Helwan, localizado ao sul do Cairo, por exemplo.
Situado na margem do Nilo, as ruínas do nilômetro podem ser visitadas até hoje. Segundo registros arqueológicos, a construção foi erguida ou restaurada em 699 d.C. — cerca de meio século depois que os muçulmanos conquistaram o Egito.
Modernidade
Em 714 d.C., o califa omíada Al-Walid I observou o péssimo estado de conservação da estrutura e deu uma ordem ao governador do Egito na época. Ele exigiu que o nilômetro fosse reconstituído.
Por anos a fio, independentemente da potência que dominasse o Egito, os nilômetros continuaram a forma mais eficaz de medir o nível das chuvas. Os impostos egípcios, inclusive, foram baseados nas enchentes até metade do século 20.
A construção, entretanto, tornou-se obsoleta em 1970, quando outra estrutura foi erguida: a barragem de Aswan High. Com a nova tecnologia, a relação entre o Nilo e a população que morava em suas margens sofreu uma mudança considerável.
Pela primeira vez em séculos, era o homem quem controlava as enchentes causadas pelo Nilo e, assim, os nilômetros não eram mais necessários. Com a barragem, as águas eram armazenadas em um reservatório, liberadas apenas quando necessário.